Uma tarde de homenagem, reconhecimento e valorização da profissão optometrista marcou a sessão especial realizada na última quinta-feira (10), no plenário da Assembleia Legislativa da Bahia, pelo deputado José de Arimateia.
O evento outorgou o Título de Cidadão Baiano ao paulista Ricardo Turbiani Bretas, que é um dos pioneiros da optometria no Brasil e, não à toa, chegou a ser citado no evento como o pai da profissão por Eriolanda Bretas, presidente da Confederação Brasileira que congrega os profissionais e empresas que atuam no setor.
Arimateia deixou claro que concorda com Eriolanda, ao fazer o discurso protocolar de saudação. Mas não foi o único e, como já se tornou praxe na Casa, outros três pronunciamentos foram dirigidos a Ricardo: o deputado federal Márcio Marinho, o vereador de Salvador Luiz Carlos e o presidente do Sindióptica, Juarez da Hora.
PROTOCOLO
Juarez, inclusive, foi o responsável por apresentar a profissão de optometrista a Arimateia, que abraçou de imediato a causa e utilizou seus mandatos pra trazer ao Legislativo baiano a luta pela regulamentação nacional da atividade. “A partir de hoje, meu amigo Juarez, a voz da optometria vai ser ouvida nesta Casa. O parlamentar não ficou apenas disso: apresentou o problema ao deputado Márcio Marinho, vice-presidente nacional do Republicanos, que colocou não só o mandato, mas o próprio partido para levar essa bandeira adiante. Portanto, nada mais justo do que esses quatro apresentassem o novíssimo baiano.
A atenção de Bretas se voltou para a saúde visual ainda muito cedo, exatamente quando ele começou a trabalhar como office boy em um laboratório ótico e ficou fascinado por esse mundo. Desde então, ele se tornou bacharel em optometria, especialista em neuro optometria, professor e optometria comportamental. Ele já atuou em 96 países e é conhecido em todo o Brasil, por onde percorre em audiências públicas, congressos, campanhas sociais “buscando a livre e digna atuação do optometrista e de uma saúde visual de qualidade ao povo brasileiro”, como ressaltou Arimateia. O deputado disse também que o homenageado “é referência internacional sobre o assunto”.
VISÃO SOCIAL
“Sua trajetória de vida é firmada pelo compromisso de conquistar no Brasil a atenção à saúde visual de qualidade e acesso amplo”, disse, antecedendo o que ficaria claro no discurso de agradecimento logo após a entrega do diploma. Para esse momento, foram convocados à mesa dos trabalhos os filhos de Bretas: Diego e Bárbara.
Bretas ocupou a tribuna com placidez e voz baixa. Parecia estar emocionado quando foi agradecendo por um dos diversos presentes que adensaram a sua luta. Neste sentido, ele preferiu afastar o título de pai da optometria, dividindo com todos aqueles que atuaram e atuam pela atividade no país. Ele também disse que nunca esteve sozinho, mas agradeceu aos ausentes, “que lutaram e ficaram pelo caminho, àqueles que desistiram, porque nos deram força para continuar, e àqueles que caluniam, porque é deles que a gente tira o caldo vital para continuar na luta”.
O discurso de agradecimento foi se convertendo em uma fala de alento para os que estão se iniciando na profissão ou nos estudos da profissão e um chamado à luta para que o Congresso regulamente e que o STF decida a favor, já que a situação já está judicializada também. Ele disse que todos precisam entender que o Brasil precisa disso para crescer.
“Só produz direito quem aprende direito”, disse, ressaltando que boa parte da evasão escolar no país se deve a dificuldades visuais do estudante, enquanto não há vagas no SUS para optometrista e a quantidade de oftalmologistas é diminuta para atender a todos. Exemplo disso deu o próprio Márcio Marinho em seu discurso, quando se questionou se tivesse sido atendido por um especialista aos 10 anos não estaria enxergando melhor atualmente.
Para Bretas, a questão é simplesmente de reserva de mercado para os oftalmologistas e, enquanto isso, 98 milhões de brasileiros não têm acesso a uma avaliação visual. Para ele, não há contradição entre as duas profissões, já que o optometrista é um profissional de atendimento básico, com qualificação para identificar anomalias, e os oftalmologistas são médicos capacitados para tratar as doenças oculares. Ele comparou ainda a situação nacional com outros países da América e da Europa, onde a atividade é exercida livremente, inclusive sendo reconhecida pela OMS.
“Enquanto isso, continuamos a ser perseguidos, a ser presos, a enfrentar cárcere, sermos humilhados pelo exercício ilegal da nossa profissão”, disse ele, considerando que isso “só é possível em cabeça com viseira de burro, de gente que não tem visão periférica ou que não quer que essa ordem de coisas mude”. Para exemplificar, Bretas citou o ano de 1992, quando eles tentaram fazer a retirada de dois decretos malucos que restringiam a atividade ao oftalmologista, mas o lobby dos oftalmologistas entrou com uma Adin e o então presidente Fernando Collor pinçou os dois dispositivos de “todo aquele lixo que iria jogar fora”.
AgênciaALBA/ Edição: Ascom Arimateia
Fotos: Cris Oliveira