COMISSÃO DE SAÚDE PROMOVE AUDIÊNCIA PÚBLICA SOBRE O CÂNCER COLORRETAL

A Comissão de Saúde e Saneamento da Assembleia Legislativa promoveu nesta terça-feira (28), na Sala Deputado Eliel Martins, a audiência pública “Março Azul Marinho”, em alusão ao câncer colorretal e a dificuldade de exames para o diagnóstico. Proponente do evento, o deputado José de Arimateia (Republicanos) convidou dois renomados especialistas, que deram uma aula prática sobre esta doença. Na abertura dos trabalhos, o vice-presidente do colegiado lamentou a ausência de um representante da Secretaria da Saúde do Estado (Sesab) e disse que a sessão tinha a finalidade de esclarecer aos homens e as mulheres sobre o câncer colorretal, além de alertar o Poder Público no sentido de disponibilizar os exames já que, segundo o parlamentar, 150 mil colonoscopias deixaram de ser feitas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), nos últimos anos, devido à pandemia da Covid-19.
O primeiro palestrante foi o médico Marcelo Falcão, graduado pela Universidade Federal da Bahia, doutor e mestre em cirurgia pela Universidade Federal de Pernambuco. O também professor adjunto da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública falou sobre “Prevenção e Tratamento do Câncer Colorretal”, explicando, de forma didática, “o que é o câncer que se origina no intestino, chamado de câncer colorretal, pois pega tanto o intestino grosso quanto o reto”. O médico informou que, segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), o câncer colorretal é o segundo tumor mais frequente entre homens e mulheres, foi a terceira causa de mortes por câncer no Brasil em 2020 e o segundo que mais mata no mundo. Marcelo Falcão salientou a importância da realização do exame de colonoscopia, que permite visualizar possíveis lesões na mucosa, os denominados pólipos pequenos, “evitando-se chegar ao estágio do câncer avançado, que agride todo o corpo, e a colonoscopia pode ajudar na prevenção da doença”.
CÂNCER PRECOCE
O diretor médico do Instituto Falcão de Endoscopia e Cirurgia elencou o tabagismo, álcool, carne vermelha, alimentos defumados, sedentarismo, obesidade e a genética como os principais fatores de risco da doença. Marcelo Falcão ressaltou a relevância do rastreamento populacional e a vigilância a respeito da doença. Citou, como exemplo, a simples observação de hábitos comuns na vida de qualquer pessoa, ” que deveria passar a verificar e avaliar o padrão das fezes no dia a dia, pois uma simples alteração, se tem sangue, espuma ou catarro, pode chamar a atenção”. O palestrante mostrou sua preocupação quanto ao câncer colorretal precoce entre os jovens, fato que vem aumentando progressivamente nas últimas décadas. “Tem um estudo, publicado pela Sociedade de Câncer Inglesa, onde os pesquisadores estimaram que 153 mil pessoas nos Estados Unidos em 2023 serão diagnosticadas com a doença. Desses casos, cerca de 13% estariam entre as pessoas com menos de 50 anos, um aumento de 9% nessa faixa etária desde 2020”, afirmou o especialista, acrescentando que ninguém vai ver mais câncer colorretal em idoso e sim em pacientes cada vez mais jovens. “Esse é o risco e a intenção do Março Azul Marinho é fazer o diagnóstico precoce em gente que está na idade ativa, produzindo”, apontou o especialista.
“Dados Epidemiológicos, Sinais, Sintomas e Tratamento” foi o tema da palestra do médico Rogério Medrado, especialista em cirurgia geral e do aparelho digestivo. Ele disse que a campanha “Março Azul Marinho” surge na esteira do sucesso do “Outubro Rosa” e do “Novembro Azul”, sendo observada com mais ênfase, a partir dali, a incidência deste tipo de câncer e a necessidade de uma maior conscientização do diagnóstico e da prevenção em todo o mundo. “A relevância do problema é que o câncer colorretal representa a terceira neoplasia maligna mais diagnosticada nos EUA e no mundo, com taxas mais elevadas nos países desenvolvidos e o aumento contínuo da mortalidade nos países em desenvolvimento”, relatou Rogério Medrado. Ele apresentou dados que assustam, como “a estimativa de que, no triênio 2023/2025, em torno de 45.630 casos de câncer colorretal serão registrados no Brasil e, com o número alto de colonoscopias represadas, isso deve aumentar muito mais”.
Falando que a doença acomete a todos indistintamente e destacando personalidades brasileiras que faleceram no ano passado, como os jogadores de futebol Pelé e Roberto Dinamite, o médico apontou a importância da prevenção primária associado aos fatores de risco. Para o médico, deve-se analisar o histórico familiar (10% dos casos têm origem na hereditariedade), síndrome genética, doença inflamatória intestinal, doença de Crohn, consumo de bebida alcoólica e a baixa ingestão de frutas e verduras, uma dieta pobre em fibras. Sangramento nas fezes, alteração de ritmo intestinal, anemia, dor e distensão abdominal são os sintomas mais comuns do câncer colorretal, de acordo com o cirurgião.
Representando a Secretaria Municipal de Saúde de Salvador, a onco hematologista Ana Carla Góes confirmou a explosão de casos avançados de câncer na capital baiana após o período da pandemia, considerou que os exames podem ser ofertados pela rede pública de saúde, com potencial curativo, evitando-se assim um maior custo para as gestões municipais. “A Prefeitura tem vários serviços, a exemplo dos multicentros, com os gastroclínicos. Estamos diante de uma situação da pós-pandemia, com o número muito represado, e a regulação tem sofrido isso. Uma das questões que estamos fazendo é colocar o especialista para avaliar e identificar o potencial de gravidade naquela fila, com critérios de avaliação para atendimento dos casos de maior urgência”, justificou Ana Góes. A audiência pública contou com a participação do deputado Luciano Araújo (SD), que parabenizou o deputado José de Arimateia por colocar em pauta este grave problema de saúde e denunciou o que chamou de “caos na saúde pública do município de Jacobina, no Hospital Regional e no Hospital Antônio Teixeira Sobrinho, com os médicos há três meses sem receber os seus salários”. Logo depois, o vice-presidente da Comissão de Saúde e Saneamento abriu o espaço para que as pessoas pudessem tirar dúvidas sobre o câncer colorretal e agradeceu no final aos palestrantes “pelas exposições técnicas e bastante esclarecedoras sobre a doença”.
Agência ALBA
Rolar para cima
× Como posso te ajudar?